domingo, 16 de novembro de 2014

Até o Dia em que o Cão Morreu



Eis mais um belo livro lido, há muito não lia um livro bom! Mesmo não sendo um desses livros admiráveis ou herméticos como os de José Saramago ou Milton Hatoum, sua leitura é aprazível e simples, contendo apenas cem páginas, no qual pude lê-lo numa tarde.


Em seu livro de estreia, Daniel Galera, nos mostra um homem dentre seus 25 anos que consome os dias olhando a paisagem de pedra pela janela de seu apartamento vazio, situado no centro de Porto Alegre, bebendo cerveja ou caminhando sem destino pelas ruas da cidade. Até o dia em que um cão e uma modelo entram repentinamente em sua vida.


O narrador personagem tem dificuldade de escolher entre as privações do cotidiano e as infinitas possibilidades que os riscos oferecem a cada dia. Resignação na qual ele acaba viciado e pagando um preço alto por isso.


O personagem também sente temor de tomar decisões, privando-se da vida agitada, vive confinado em seu apartamento, passando os dias a fumar, a beber e a transar com a namorada, Marcela. Mesmo vivendo sem riscos emocionais, acaba sentindo os efeitos da ação e reação! E a partir de então o mundo se torna mais interessante, e aí, o personagem compreende o preço cobrado pelas paixões!


Com uma história vagarosa e uma lenta evolução, o autor consegue transportar o leitor para uma introspecção do seu personagem, onde quase nada acontece, e aí a morte vem para quebrar o ritmo da rotina que o consome lentamente, enfim, mostrar que tudo pode mudar. E assim a vida termina por revelar sua ternura.


O livro Até o Dia em que o Cão Morreu foi adaptado para o cinema por Beto Brant e Renato Ciasca, cujo título é Cão Sem Dono.


sábado, 19 de julho de 2014

O INCRÍVEL LEITOR


 
Decidi iniciar essa postagem com a seguinte indagação; o que é um leitor, o que realmente faz uma pessoa ser considerada uma leitora?

Na verdade há dois tipos de leitores; os esporádicos e os assíduos. Ou melhor, aquele que ler eventualmente e aquele que ler freneticamente, não que um seja melhor que o outro, apenas a paixão por tal oficio os diferenciam! Sim, eu disse oficio, porque ler também é um oficio. Se você é daquele que costuma ler uma vez ou outra, ou que só gosta de ler certos assuntos do momento ou somente aquilo que lhe interessa, pode se considerar um leitor esporádico. Mas um leitor mesmo ele sendo esporádico não quer dizer que não seja um leitor, eventualmente, mas é um leitor. Mesmo que nunca compreenderá a avidez de um leitor sequioso por suas leituras diárias e frenéticas!


Agora caro leitor, se você é daquele que ler tudo que cai em suas mãos ou tudo que está em sua volta, inequivocamente considere-se um leitor apaixonado, ou melhor, um leitor assíduo. Pois um leitor assíduo ler tanto o que gosta como tudo o que está em volta dele. Mas claro, sempre garimpando sua leitura. Esse tipo de leitor é um devorador das palavras, um faminto de saber, um apaixonado da leitura, um consciente ignorante por conhecer, ou um mero aprendiz das letras. O leitor assíduo não ler por ler, mas por sede de saber, aprender e compreender. Esse leitor sedento e enérgico em seu ritual matutino, vespertino ou noturno, sempre em busca de um prazer indescritível, tal prazer que só um leitor análogo o compreenderá!


Mas convenhamos caro leitor, que ainda existe um terceiro modo de leitura, da qual poucos estão familiarizados; aquela leitura minuciosa, atenta, compenetrada, de estilo hermético ou investigativo, onde alguns autores deixam lacunas entre linhas para que um leitor mais experiente e ávido possa encontrá-las. 


Entretanto, isso é necessário e imprescindível para tornar-se num incrível leitor!

quinta-feira, 17 de julho de 2014

DOIS IRMÃOS



Esse livro narra a história de dois irmãos gêmeos de temperamentos completamente diferentes e seu drama familiar, como são construída as relações de identidade e a realidade de uma família em crise.


Os dois irmãos gêmeos – Yaqub e Omar – são o enredo central da história, no qual é narrado suas relações com a mãe, o pai e a irmã caçula. Além do drama familiar moram na mesma casa Domingas, a empregada patriarcal da família e seu filho. Já o dito filho da empregada é o narrador de toda a história, ele narra a difícil realidade da convivência muitos anos depois, e os dramas que testemunhou calado por todo esse tempo. Ao tentar encontrar a identidade de seu pai dentre os homens da velha casa, ele também tenta reconstruir o passado despedaçado, ora como testemunha, ora como ouvinte.


Feito um exímio observador desprezível, o narrador nos mostra personagens que se entregam ao incesto, às intrigas, à vingança e à paixão descomedida. Entretanto, ainda nos é mostrado o lugar pelo qual a família ocupa na cidade de Manaus, as metáforas da decadência, a passagem do tempo e tragédia familiar!


O autor se utiliza do artifício da nostalgia para contar essa magnífica história de relações e intrigas, na qual acabamos nos encontrando em algum dos personagens.


Dois irmãos, Prêmio Jabuti 2001 de Melhor Romance.

domingo, 18 de maio de 2014

Não Muito



Editora 7Letras
Mais um autor que ainda não conhecia e que me agradou bastante a leitura de seu livro foi Bolívar Torres, seu romance nos revela as incertezas, o desolamento e os pavores da juventude contemporânea, como por exemplo, não saber ou decidir o que realmente quer da vida, o medo do compromisso, etc e etcetera. 

Personagens que vivem a esmo sem saber aonde ir e qual objetivo alcançar, que se misturam aos ébrios, sóbrios e “adestrados.” Perdidos na noite, no tempo e no espaço, em seus desejos reprimidos e encontros casuais. Onde o acaso é o fator em análise de toda a história. 

Algo nas entrelinhas que me chamou a atenção foi quando estamos entregues ao acaso ou não sabemos o que queremos somos alvos fáceis de pessoas persuasivas. Acabamos sendo levados por uma força ou caminho que jamais havíamos imaginado, somos literalmente arrastados por uma correnteza, como um corpo inerte que boia sobre suas águas. 

Há relapsos de nostalgia nos momentos em que o personagem resgata um pouco de sua infância, tais ocasiões nos mostra que a sua felicidade realmente estava naqueles tempos de outrora, onde jazia sua inocência. Cujo título “não muito” é uma alusão ao que os jovens pensam a respeito da rotina familiar. 

E a letargia que invade o personagem é algo recorrente na juventude atual também, mas sua letargia o faz pensar constantemente na morte, ou melhor, no suicídio do pai de um amigo seu de infância, tal pensamento recorrente misturado à letargia o faz sofrer de tal modo que ele chega a cogitar numa possível “eutanásia”. (...) Observação caro leitor, tudo isso está de modo implícito.
http://www.7letras.com.br/catalogsearch/result/?q=romance 

domingo, 11 de maio de 2014

Relato de um Certo Oriente



A literatura é um meio mais completo de examinar a condição humana. E isso o autor amazonense, Milton Hatoum, faz com maestria em seus romances pomposos. 

O primeiro livro do autor que li foi, Relato de um Certo Oriente, livro do qual estreou na literatura nacional. Ele relata a volta de uma mulher, após longos anos desde que se ausentara de sua cidade natal, Manaus, num diálogo com o distante. A obra trata-se de um regresso à vida em família, na verdade é um relato de uma complexa viagem ao passado, no qual o destino da personagem se confunde com a do grupo familiar na tentativa de encontrar a si mesmo e o outro. 

O romance é uma reconstrução imaginária, ou seja, reformular no lugar de origem as lembranças e recônditos do esquecimento, a casa demolida. Um mundo enigmático e cheio de nostalgia. 

Com uma viagem irresistível e uma prosa evocativa e fascinante, Milton Hatoum, no meandro de suas frases nos leva ao regresso à cidade ilhada pelo rio e a floresta amazônica, a conhecer o drama dessa ilha familiar por meio de uma família de imigrantes que ali há muito radicada, vive suas paixões, suas culpas e melancolias por meio do passado retrospectivo nas vozes de outros personagens encaixadas na voz da narradora. 

Dentre os livros que li do autor, esse é o que tem a linguagem mais rebuscada e um estilo meio hermético. Onde o romance com suas figuras fortes e fugazes nos faz regressar ao passado, e encontrar no relato de volta à casa desfeita, o conhecimento limitado do outro e de si mesmo. Ou melhor, o enigma do ser!