terça-feira, 31 de janeiro de 2017

UM RETRATO À HUMANIDADE de GONÇALO M. TAVARES



Confesso que sou suspeito para falar sobre os livros de Gonçalo M. Tavares, fã incondicional que sou de seu trabalho literário e um leitor ávido de seus livros, “Uma menina está perdida no seu século à procura do pai” é mais um dentre seus maravilhosos trabalhos que terminei de ler essa semana, magnífico.

O livro tem como pano de fundo a segunda guerra mundial e suas consequências à humanidade, ele retrata também o isolamento, a desconfiança, a solidão mesmo estando em companhia, a perda, as manias dos personagens para não enlouquecerem ao ver o tempo passar lentamente diante de um mundo hostil, inóspito e decadente.

O autor nos mostra os meios pelos quais os homens utilizam para manter viva a história da humanidade e os tais métodos utilizados para repassar esses conhecimentos adiante sem que eles se percam no meio do caminho. E os cuidados são tantos que o homem chega a dividir tais conhecimentos em sete “peças” cruciais espalhadas estrategicamente pelos quatro cantos do mundo como uma sociedade secreta.

Sob os escombros da segunda guerra mundial está uma menina com necessidades especiais, na verdade com trissomia 21 cujo termo utilizado no livro, ou seja, uma menina com síndrome de down à procura do pai num cenário fúnebre, funesto, cinzento e completamente em ruínas. Mas ela não está sozinha...

Gonçalo Tavares me surpreende a cada livro novo seu, pois nesse adorei a analogia que o autor utilizou para a trissomia 21 num estado onde todos se encontram durante a guerra, ou seja, vulnerável, instável, perdido, limitado, sozinho, dependentes um do outro independentemente da idade, do tamanho ou da classe social. Somos todos interdependentes. Cuja menina é guiada pelo personagem, Marius, este também a tem como uma âncora para onde quer que vá, e aonde vai lá está ele agarrado à mão dela e ela a dele em perfeita companhia um para o outro e etc. e etc.

Como todos os finais surpreendentes de seus livros, esse não seria tão diferente, o autor nos leva às ruas desertas, a lugares inóspitos, às pessoas excêntricas, à esperança que adentra o livro do inicio ao fim, às ruas ruidosas e a tal liberdade tão almejada pelos homens sedentos de dias melhores. Gonçalo em sua maestria “literalmente” brinca com as palavras ao relatar uma das tragédias da humanidade ou um dia tão incomuns ou mesmo uma rotina enfadonha, cansativa numa existência estagnada.

“Uma menina está perdida no seu século à procura do pai” nos mostra o quanto somos fortes e frágeis, dóceis e horrendos, generosos e mesquinhos, amáveis e detestáveis, altruístas e egoístas, perenes e efêmeros, ambiciosos ou medíocres!

domingo, 22 de janeiro de 2017

Resenha 61# - Carratos: Uma História de Rock por Ricardo Biazotto

Carratos: Uma História de Rock, Ocelo Moreira, 1ª Edição, Osasco-SP: Novo Século (Novos Talentos da Literatura Brasileira), 2011, 160 páginas

Resenhado por Ricardo Biazotto


Graduado em Biologia, Ocelo Moreira nasceu em 1977 e já trabalhou com diversas artes, sendo que a música esteve presente em grande parte de sua vida. É o que o autor nos conta em seu livro de estreia, Carratos: Uma História de Rock, onde narra em cinco partes sua experiência musical com a banda Carratos, da qual foi fundador.

Nesta autobiografia, Ocelo Moreira nos conta em capítulos curtos, e com uma linguagem de fácil compreensão, momentos importantes da música em sua vida, desde quando essa arte tão encantadora conquistou mais um fã, bem como ele resolveu se dedicar em uma banda, da qual foi fundada no interior do Ceará. 

Percebemos, ainda nas primeiras páginas, que ao contrário de muitos que sonham em ter uma banda, Ocelo possuía uma característica rara: queria ser músico para poder expressar suas ideias através das letras, e não apenas para ser mais um rosto conhecido na mídia. Esse ponto fez com que me tornasse fã do músico Ocelo Moreira, antes mesmo de ter a oportunidade de ouvi-lo. 

“Um grande artista é como um modelo a ser seguido, e é visto como o espelho social de seu tempo. O artista é como um guerreiro porque a arte exige uma luta constante. Um verdadeiro artista está sempre combatendo por amor a ela e atingindo seus objetivos. evoluir, contribuir, viver e crescer. Porque um guerreiro da arte não para, apenas descansa enquanto sua obra prolifera sobre a Terra". (pág. 16)

Em suas cinco partes, o livro possui diversas passagens da vida do autor, e explica momentos importantes da banda que teve um fim precoce, mas que conseguiu um grande destaque no cenário musical do interior cearense. Algumas das histórias são engraçadas, e outras nos fazem refletir, afinal, para a realização de um sonho, precisamos passar por diversas dificuldades e Ocelo enfrentou muitas delas.

Nada melhor do que usar de fotos para engrandecer uma autobiografia, e Ocelo usa e abusa de fotografias que nos ajuda a conhecer melhor os membros da banda, e momentos interessantes, como gravações e aparições na TV. O livro ainda possui desenhos feitos pelo próprio autor, além de letras e partituras de músicas da banda. Com os desenhos citados, percebemos que além de um grande compositor e escritor, Ocelo ainda desenha muito bem, e o grande destaque são os desenhos de Raul Seixas, do qual ele se diz muito fã, e do símbolo da banda, que está bem explicito na capa. 

“Não é por meio da morte que tudo vai acabar, mas por meio dela vamos nos encontrar – Triunfo da Morte; composta em 2000". (pág. 141)

Com ótima diagramação, uma capa bem desenhada, e história bem escrita, é um ótimo livro que devoramos em questão de minutos. Apesar de não conhecer a banda, percebi neste livro que Carratos tem uma história inesquecível, e que diferente de muitas bandas, não serão esquecidas facilmente.

Fica aqui a minha dica de leitura e minha aposta, afinal, Ocelo Moreira tem capacidade para escrever ótimos livros. O autor consegue passar diversas mensagens, e nos mostra, através de pensamentos, que ter uma banda é muito mais do que diversão. É se dedicar e trabalhar na realização de todos esses desejos, e deixar de lado no momento certo. Isso é Carratos. 

“A banda é como uma família, se um deixa de cumprir com suas responsabilidades, ela sai do trilho. Assim também é a família: quando um deixa de cumprir com seus deveres, ela começa a desandar". (pág. 46)

Adquiri um exemplar do livro com o próprio autor, que cedeu gentilmente um exemplar para que uma promoção pudesse acontecer, e eu o agradeço por isso. A promoção deve se iniciar no próximo dia 02. É imperdível. Aguardem!!
http://overshock.blogspot.com/2011/12/resenha-61-carratos-uma-historia-de.html

Uma história intensa por Nath Lambert

Resenhado por

Em seu primeiro livro, Ocelo Moreira conta sua saga na banda Carratos. Quando o livro chegou em casa, meu irmão viu o nome do livro e comentou "Tem algo a ver com carrapatos?".

Ri e coloquei o livro na minha pilha de leitura. Como ontem eu não tinha que ir trabalhar nem nada, decidir ler um livro. Não queria pegar um que já estava lendo, então verifiquei minha pilha de livros para ler. Como Carratos era o menor livro, decidi pegá-lo para ler.
Acomodei-me na minha cama e iniciei a leitura. Li o livro em uma horinha. Primeiro por que o livro é pequeno, e segundo por que o livro prende a atenção de uma forma monstruosa. Sabe aquele livro que você fica lendo incessantemente até saber o final? Esse é completamente diferente. Você já sabe que, no final, a banda acaba. Então, qual a graça de se ler um livro?

Ocelo Moreira estudou Biologia, trabalhou como professor, músico e também como desenhista e pintor - ele desenhava revistinhas em quadrinhos que vendia aos primos. Mas muita gente se esquece de adicionar um oficio no qual Ocelo também brilha: filósofo.
Tanto nas letras de suas músicas como também em passagens do livro. Escolhi duas das quais mais gostei:

"A vitória nem sempre é alcançada no final da batalha [...] às vezes, para se chegar à glória não é necessária uma vitória, basta ter coragem, determinação e força de vontade, e tudo isso é extraordinário diante do triunfo. O grande prazer da batalha não está em seu final, mas no esplendor em poder batalhar pelo que se acredita."
Página 64

"[...]Um grande homem vive com bastante intensidade a cada dia, como se não existisse o amanhã. E faz sua história sem se preocupar com glórias ou reputação, porque, no fundo, sabe que o sucesso é efêmero e a história é perene.Por isso, vive plenamente, pois sabe que a vida também é transitória."
Página 126

O livro tem início com a explicação do nome da banda (que eu tive a preocupação de explicar ao meu irmão, depois). Na capa do livro há uma caveira e um rato. O autor, que na época desenhava com frequência, dava nomes aos seus desenhos. Mas esse desenho não era um qualquer, e ele queria dar um nome com um significado maior ao desenho. Foi misturando as palavras Caveira e Rato e no final, ficou Carratos. Eu também tenho essa mania de colocar nomes nos meus desenhos. Coisa de desenhista.

Ocelo sempre gostou de música. Ouvia Raul Seixas e, além de adorar a voz do homem e de suas melodias, ele curtia muito as letras do músico. Curioso, decidiu ver quem o ajudava a escrever e descobriu que  escritor Paulo Coelho escrevera as mais brilhantes músicas juntamente com Raul. Assim, Ocelo procurou ler os livros de Paulo e acabou gostando muito das ideias dele. E eu devo ressaltar que adoro Paulo Coelho, também.

O fato é que Ocelo guardava muitos sentimentos e emoções dentro do peito, e tudo o que ele mais queria na época era poder estravazar tudo o que pensava. Como os desenhos não passavam suas angústias, ele decidiu compor músicas. Mas de que adianta a letra sem nem ao menos haver melodia?

Assim nasceu a banda Carratos. Ocelo, através do conjunto musical, deu voz às suas composições, tornando-se um sucesso na região, com grande divulgação por parte da rádio local, tendo direito a um CD gravado em estúdio e uma aparição na televisão.
Ocelo foi um vencedor com a banda Carratos, mesmo que, no fim das contas, a banda tenha acabado.

Carratos - uma história de rock, foi um livro que eu simplesmente amei. Simplesmente curti e simplesmente indico nesse blog!!

Muito sucesso a você, Ocelo, muitos livros e alegrias em sua vida!
Beijos.  

sábado, 21 de janeiro de 2017

CONHECENDO NOVOS AUTORES INDEPENDENTES



Gosto de ler novos autores, eu não sou um autor que só ler clássicos ou livros contemporâneos de autores renomados ou best-sellers. Adoro conhecer o que a literatura, as editoras ou autores independentes têm a nos oferecer, já li outros autores dentre os quais pertencem a tais editoras como a editora 7 Letras, a Patuá e agora a editora Livrus. Pretendo conhecer mais novas editoras como a Penalux, a Multifoco, a editora Giz, a editora Draco e dentre outras. Enfim, leio de tudo um pouco, adoro diversos gêneros literários, apesar de os meus preferidos serem romance, ficção e biografias. 


Eis mais um autor independente que gostei de lê-lo, Mohanad Odeh e seu livro Simplesmente Complexo, que conta a história do reencontro de dois “velhos amigos” que decidem sair pelo mundo sem nenhuma preocupação ou compromisso com a vida, vivendo assim sem pensar no amanhã ou suas iminentes consequências de seus atos, e durante os dias descompromissados que percorrem pelas ruas de São Paulo simplesmente a vadiar que o personagem principal, Gustavo, chegando a certas conclusões a respeito da vida com seus enigmas e seus valores e etc. e etcétera. Com apenas uma ressalva; o capítulo sete ficou prolixo e muito cansativo, achei enfadonho percorrer mais de 50 páginas em um único capítulo! E achei a sinopse do livro muito sucinta.


Para quem adora histórias simples, que relatam a vida comum com personagens comuns do nosso cotidiano cheias de diálogos e bem sucinta eu recomendo a sua leitura. Seus capítulos são curtos, nomeados e todos iniciam com uma espécie de prólogo singular, com exceção do capítulo sete (Cocaína) que é o mais longo! Sua história fala de amor, amizade, confiança, esperança, ganância, status, vícios, rotina, aventura, insanidade, inocência, maturidade, aprendizagem, fé, complexidade, e acima de tudo, a vida.


A respeito do acabamento, da diagramação e da capa do livro, a editora Livrus está de parabéns pelo lindo trabalho, eis um livro cuja capa, contracapa e miolo estão muito bem acabados, resultando assim numa belíssima obra. Resultado esse que jamais perderia em tais aspectos para qualquer outra editora veterana ou tradicional como a Companhia das Letras, por exemplo. Ainda com relação a resultados satisfatórios, mais uma vez a Livrus está de parabéns, um trabalho impecável. Mas confesso ter encontrado alguns erros de digitação como o da página 147, ao invés da preposição (de) seria o pronome (te), enfim, esse e outros erros pífios jamais tornarão o trabalho da editora ou mesmo do autor em resultados dúbios.


Simplesmente Complexo – Ao mesmo tempo, prolixo, singelo e sucinto!

sábado, 14 de janeiro de 2017

Livro Mostra o Lado Real do ‘Sonho Americano’

'Aqui Estão os Sonhadores', da camaronesa Imbolo Mbue, aborda as dificuldades de um casal de imigrantes recém-chegados aos Estados Unidos
Autora Imbolo Mbue

Sem apelar para a ironia fácil ou um toque de dramalhão, Aqui Estão os Sonhadores (tradução de George Schlesinger, Globo Livros, 424 páginas, 49,90 reais), romance de estreia da camaronesa Imbolo Mbue, expõe os sonhos e as esperanças – e também a perda deles – de Jende e Neni, casal de imigrantes dos Camarões em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos.
 
Enquanto Jende arruma um emprego bem remunerado como motorista particular de Clark Edwards, executivo de um banco, Neni é contratada pela mulher dele, Cindy, para trabalhar como empregada na casa de veraneio. O dia a dia do casal é pontuado por tarefas, cuidados com o filho, Liomi, e pelo medo de ter de regressar à África se as autoridades descobrirem sua situação irregular. Quando Edwards se vê à beira da ruína com o colapso financeiro de 2008, segredos, angústias e temores dos dois casais vêm à tona.
Aqui estão os sonhadores, de Imbolo Mbue (Reprodução)

Em tempos em que a situação dos imigrantes é alvo de discussão em todo o mundo, Aqui Estão os Sonhadores é uma boa sugestão de leitura – sua autora, Imbolo Mbue, conhece bem o cenário que descreve, já que mora nos Estados Unidos há mais de uma década. O jornal Washington Post, em resenha publicada em agosto do ano passado, sugere que a obra deveria ser lida por Donald Trump. Depois que ele foi eleito, mais do que nunca.

Conteúdo: Revista VEJA.